04/02/2021

Dos 19 projetos portugueses nomeados para o Prémio da União Europeia para a Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, cinco ficam na cidade do Porto e outros três têm assinatura portuense. Entre os candidatos está a obra de Nuno Brandão Costa, que converteu o bairro municipal de São João de Deus em 96 novas casas para os moradores e afastou o local do estigma de outros anos.


Erguido nos anos 40 do século passado, já foi conhecido pelo nome Bairro de Rebordões. E também já viu grande parte das suas edificações demolidas em 2008. Depois de uma total reconversão iniciada em 2016, no primeiro mandato de Rui Moreira, o Bairro de São João de Deus atreve-se agora a viver uma quarta fase na sua história: a nomeação para um prémio europeu de arquitetura contemporânea.


O projeto, do portuense Nuno Brandão Costa, mudou a imagem daquele espaço e as condições de quem lá vive. São 96 casas – entre construção nova (12) e reabilitação (84) –, além da intervenção no espaço público com a abertura de uma nova artéria de acesso ao bairro, e da instalação das redes de infraestruturas de abastecimento de água, de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, de gás natural, de telecomunicações e de iluminação pública.


No final de 2020, iniciou-se a segunda fase da empreitada de reabilitação do Bairro de São João de Deus, que para além da recuperação de mais 24 fogos prevê a construção de uma nova habitação com dois pisos. Esta obra irá terminar no final de 2021 e foi adjudicada à empresa Befebal II por um valor próximo a 2,16 milhões de euros.

Uma obra de arquitetura que pode já considerar-se reconhecida e uma das primeiras empreitadas a inserir-se na estratégia da autarquia de investir no desenvolvimento de lugares proscritos, especialmente na zona oriental da cidade.


Também na freguesia de Campanhã, concorre pelo prémio Mies van der Rohe o projeto do arquiteto João Mendes Ribeiro, que, em 2019, reconverteu o Palacete Ramos Pinto. Abandonado durante anos, o espaço reabriu como polo cultural dedicado à arte contemporânea e com a designação pela qual sempre foi conhecido: Casa São Roque.


Para este desfecho, contribuiu o empenho pessoal do presidente da Câmara do Porto. Na sequência de uma decisão municipal, foi possível inverter a ruína e assinar um protocolo com o colecionador de arte Pedro Álvares Ribeiro, que permitiu avançar com as obras de recuperação do palacete, que constitui agora um dos poucos exemplos de art déco em excelentes condições.


O arquiteto da Casa São Roque vê ainda outra obra sua selecionada pelo júri europeu do Prémio: a Casa no Castanheiro, em Vale Flor, em Mêda.


Um terceiro projeto portuense nas escolhas do Mies van der Rohe é a Tipografia do Conto, assinado pelos arquitetos Alexandra Coutinho, Nuno Grande, Rita Basto e Jorge Gomes, da Pedra Líquida. A residência nasce da reconstrução, alteração e ampliação de uma antiga oficina do início do século XX, a Tipografia e Oficina Gráficos Reunidos, na Rua de Álvares Cabral.


Mies van der Rohe nomeia mais dois arquitetos da cidade


Ainda que fora do Porto, há dois arquitetos da cidade com obras em destaque a concurso: Álvaro Siza Vieira, com um projeto em Gallarate, Itália, e Diogo Aguiar que vê reconhecida a sua Pavilion House, em Guimarães (em coautoria com Andreia Garcia) e um edifício de enoturismo da Quinta da Aveleda, em Penafiel.


Esta primeira fase de nomeações (a segunda terá lugar em setembro) incluiu na lista, ainda, um conjunto de seis casas e um jardim na cidade, projeto do ateliê FALA, assinado por Filipe Magalhães, Ana Luísa Soares e Ahmed Belkhodja, bem como a reabilitação de três edifícios da Rua do Almada, pelo estúdio Figueiredo+Pena Arquitetos (este último projeto foi já vencedor do Prémio João de Almada 2019).


Os projetos na corrida pelo Prémio da União Europeia para a Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, que homenageia um dos principais nomes da arquitetura do século XX, foram escolhidos por especialistas europeus independentes, associações nacionais de arquitetura e pelo comité consultivo da organização. A lista é composta por 449 trabalhos de 279 cidades em 42 países.

Portugal é o quinto país com mais projetos selecionados, a seguir a Espanha (31 construções no país e três fora), França (com 29 nomeados no país e cinco no estrangeiro), Alemanha (25 projetos no país e um fora) e à Bélgica (com 21 construções dentro de portas), informa a agência Lusa.


Em 2019, o Jardim Botânico do Porto já havia sido candidato ao Prémio Mies van der Rohe, com a reabilitação da Casa Andresen, da Casa Salabert e das Estufas de Franz Koepp. O projeto é da autoria de Nuno Valentim (arquiteto que também assina o projeto de requalificação do Mercado do Bolhão), Frederico Eça e Margarida Carvalho. Estiveram, ainda, na lista projetos do arquiteto portuense Francisco Vieira de Campos e do arquiteto Camilo Rebelo (em coautoria) que assinou projetos para a Câmara do Porto.